domingo, 16 de maio de 2010

A etimologia da palavra Itabaiana*

     José Wilson Moura Santos**




A etimologia da palavra “Itabaiana” é de origem Tupi, como tantas outras que conhecemos por denominar rios, povoações, relevos e cidades do nosso Estado. Por isso, as suas explicações etimológicas acerca dos seus significados estão presentes em várias obras dos intelectuais sergipanos. Contudo, as explicações muitas vezes sobre determinadas palavras divergem-se, provocando muitas discussões, a respeito do seu verdadeiro étimo.
O étimo Itabaiana sempre trouxe inspirações poéticas, discussões que a envolvem em lendas, poesias que nos transportam a paisagens de outrora, que nos fazem sonhar e/ou imaginar como fora Itabaiana antes dos colonizadores, antes do sítio de Ayres da Rocha. Mas também, o seu significado não se encerra em mitos e poesias, temos os estudiosos sergipanos e serranos que conhecedores da língua tupi se enveredaram a caminho do seu significado. A fim de tratarmos acerca da etimologia de Itabaiana, mostraremos primeiramente os intelectuais que se enveredaram pela poesia e a lenda. E em seguida, os que tratam de expor a origem do nome da cidade à luz da língua tupi.
Inicialmente temos o Dr. Manoel P. Oliveira Telles que escreveu o poema “Itabayana” (TELLES, M. P. Oliveira. Itabayana. Instituto histórico e Geográfico de Sergipe, Aracaju, 1929, p. 85-99), em 1929, para exaltar a natureza serrana, contribuiu para o enriquecimento do folclore serrano ao declamar em versos a lenda que alude ao surgimento da serra que denominará a cidade. Devido a sua grande importância para a história itabaianense, transcrevemos versos do poema (respeitando a ortografia da época) que aludem a formação da serra e conseqüentemente a sua denominação e respectivamente a da cidade.

(...)
“E` que fica o planalto sorridente
De Itabaiana. Vem da serra o nome.”
(...)
“Era um indio...Nem sei que nome tinha,
Não cogita do nome a poetiza,
(...)
Era um índio, dizia, um potentado,
Terror das selvas todas, pois mandava
Sol e chuva naquelle antigo tempo
(...)
“Outro indio, não longe, dominava;
tambem soberbo e mau, mas alquebrado,
Já farto de viver, no fim da edade;
Não velho a caducar, porem já velho,
(...)
Mais feliz que o rival, tinha uma filha;
(...)
Fazia entontecer cada guerreiro.
(...)
O caboclo rival do velho chefe
Era indio potente, musculoso.
(...)
Na vil cabeça a intenção ardia
De exterminar o indio legendario.
Era Miaba a um tempo premio e causa
(...)
Pois a bella Miaba era insensivel
Aos protestos do indio apaixonado.
(...)
“Aproveitando o estribular dos grillos,
Typo de homem vem, quebrando ramas,
E de um só pulo se apresenta á virgem.

Quiz a moça fugir, era já tarde.
Só lhe restáva resistir á furia
Do cacique que ardia pelo goso.
Não de outra sorte a alimaria bruta,
(...)
Rosna, babando, sexual deleite.
A` femea accorre, lambe-a; retrocede
E avança de novo tiritante,
(...)
Continua a avançar ardendo em cio
(...)

Do impecto carnal apaixonado,
Teve medo, tremeu; tremeu convulsa;
Da propria fraqueza armando a força,
Para bem longe o repellio irada.
(...)
“Mas o selvagem não reflecte muito.
Demais era senhor do ermo e della,
Nessa hora feliz, cevando raivas,
Prazer e odio saciava á farta.
(...)
“Chora Miaba a ingratidão da sorte.
O riacho a rolar sobre pedrinhas
Imitava os soluços de Miaba.
(...)
Na taba de seu pae não mais foi vista.
(...)
Então dizem que déra á luz, ao cabo
De nove mezes de crueis tormentos,
Uma formosa explendida menina,
Que trouxe a sorte de viver nas fontes,
(...)
E` appellidada Poço da Mãe da Agua .

“Referem que Tupan na terra andando
Ouviu narrar o episodio triste
Da formosa Miaba, Incosolavel
Chorou Tupan de pena. Um Deus chorando,
(...)
“- Olha o justo castigo que mereces,
Orgulhoso cacique, que imprudente
A Tupan recusastes os dons da vida:

- Os raios de Tupan te firam na alma,
Immovel ficarás mudado em serra;
Para sempre serás – Itabayana
E quando as gerações passarem junto
Ao logar onde foi a tua choça,
Tranzidas de tristeza lacerante,
Apontarao para a alterosa serra,
Exclamando: Alli está Itabayana !...”

“Pouco depois as nuvens se inflammaram
E fulminante raio atravessara
O cacique a tremer. No mesmo instante
Solta um grito de dor; mas já sem forças
Rodou tres vezes, baqueiou no chão.
Contorce-se nas pedras moribundo;
De cada braço e perna ergueu-se em monte,
E a cordilheira surge de um só homem

“A ignea lingua lhe excavou no peito
Lethal cratera, que extravasa o sangue;
O qual; rumo do sul, seguindo em curva
Trajectoria, como um arco-irys,
Cahio mui longe, de outra serra ao pé
E a terra esopou; de onde mais tarde
Mananciaes e fontes se rasgaram.

“O sangue que esguichara da ferida
chamou-se Cotinguiba . Inda hoje corre...”

Com o mesmo propósito de mostrar o étimo Itabaiana, Vladimir Carvalho de Souza em “Santas Almas de Itabaiana Grande', 1973, trabalha a lenda para explicar o significado Itabaiana. Na sua exposição sucinta fala da lenda tratada anteriormente e apresenta uma outra lenda que justificaria o nome da cidade. Na obra, o autor expôs que “narra a tradição oral que existiu, em certa época, não focalizando-se o século, uma índia, de nome Ita e de naturalidade baiana, que, ao dançar a multidão eufórica exclamava:
“- Ita a baiana! Ita, a baiana!
E daí o termo Itabaiana.” (1973,22).
O dr. Armindo Guaraná em “Glossário Etimológico dos nomes de língua Tupi na geografia de Sergipe”, 1927, mostra que a etimologia de Itabaiana é a seguinte: “ITABAIANA – Serra. Cidade. Comarca. Itá – pedra; taba – aldeia; oane – alguém: naquella pedra mora alguém, há uma aldeia com gente ”. (1972,309).
O itabaianense Sebrão Sobrinho em “Fragmentos da História de Sergipe”, 1972, afirmou que Itabaiana tem “... dupla etimologia. No vernáculo – ITA, montanha; BAIANA, da Cidade. A única, translatamente: CIDADE ALTA; CIDADE DA MONTANHA. EM ABANHENGA (FALA DE GENTE, FALA DE HOMEM) ou em Nheèngatu (fala bonita, a língua Tupi: I, determinativo de lugar onde); ITA; montanha; TAB, aldeia, morada; ABAÜ (abay, abai)...; ANA (corrução de ANGA, alma. Literalmente: NAQUELA MONTANHA HABITAM AS ALMAS DOS HOMENS DO MAR, DOS NAUTAS.”(1972, 102, 103).
Ainda, temos o Padre Francisco da Silva Lobo em 1757 escreveu “Informações ou Noticias sobre a freguesia de Santo Antônio e Almas de Itabaiana”, tornado-se o seu primeiro cronista. Este a respeito da etimologia da cidade serrana disse que escrito em língua portuguesa significa pedra grande; na tupi ou vulgata: serra grande.
O Dr. Manoel P. Oliveira Telles e o serrano Vladimir Carvalho nos concedeu conhecermos duas lendas que tratam de um só tema: o significado da palavra Itabaiana que nomeia a nossa cidade. O primeiro dá-nos um grande presente que é este riquíssimo poema a nossa cidade, enaltecendo a nossa história, a nossa cultura, embelezando as nossas paisagens com este requinte indianista e naturalista. Além de contribuir para o enobrecimento do nosso folclore. O segundo é de igual importância para nós, por relatar sobre o tema estudado.
Em relação a Armindo Guaraná, Padre Francisco da Silva Lobo e Sebrão Sobrinho; estes se debruçaram na língua Tupi para explicar o significado da palavra Itabaiana . Contudo, Sebrão Sobrinho se sobressai na explicação etimológica, deixando claro no texto o seu total conhecimento da língua.
Enfim, fica óbvio a forte presença da língua Tupi na denominação da cidade e a sua etimologia. E não apenas nela, mas nos povoados serranos como antes demonstrado no artigo “A ETIMOLOGIA TUPI NAS DENOMINAÇÕES DE POVOADOS EM ITABAIANA”. Em virtude disto, devemos estudar com mais afinco a etimologia utilizada em nosso meio, já que sua presença se faz acentuada nas denominações dos vários povoados, logradouros adjacentes em nosso meio. E, em meio a isso, devemos preservar e valorizar a memória dos primeiros povoadores destas paragens. Enfim, fica-nos a etimologia mais aceita do nome da nossa cidade nos legada pelo nosso conterrâneo Sebrão Sobrinho: “ Naquela montanha habitam as almas dos homens do mar, dos nautas”.
Nota:
* Texto produzido entre julho e agosto de 2005
* * Professor e pesquisador graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe.

Um comentário:

  1. Muito interessante as colocações a respeito da origem do nome de Itabaiana, cidade que agora tenho o prazer de conhecer por motivo de trabalho e onde, no entanto, em 20 dias de convívio, não encontrei quem me desse explicação quanto à origem do nome.
    Muito grata, foi super esclarecedor e serei uma multiplicadora do que agora passei a saber através de seu blog.
    Vera Schumann - Consultora Ambiental
    Alagoana residente na Bahia.

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