domingo, 16 de maio de 2010

PERFIL HISTOROGRÁFICO DE FRANCISCO ANTÔNIO DE CARVALHO LIMA JÚNIOR*

José Wilson Moura Santos**


RESUMO


O presente artigo tem como objetivo traçar o perfil historiográfico de Francisco Antônio de Carvalho Lima Júnior. Para tanto, chamaremos a atenção a sua principal e volumosa obra "História dos Limites entre Sergipe e Bahia" e das suas cinco produções monográficas que foram pioneiras ao tratar da história de uma cidade.Além disso, abordaremos sucintamente os principais temas dos artigos de cunho histórico espalhados nos diversos jornais sergipanos e dos Estados da Bahia, Alagoas, Rio de Janeiro e outros. Enfim, apoiamo-nos em vários intelectuais de sua época e atuais para demonstrarmos a sua singular importância na historiografia sergipana.

Palavras-chave: Carvalho Lima Júnior – produção historiográfica - História sergipana

ABSTRAT
The present article has as goal trace the profile historian of Francisco de Carvalho Lima Júnior. For so much, we will call its attention main and voluminous work "Limits History between Sergipe and Bahia" and of her five productions monograph that were pioneers when care for treating history of hte city. Beyond of this, we will board succinct the mark goods main themes dispersed historical in the several newspapers natives of sergipe and of the State of Bahia, Alagoas, Rio de Janeiro and another. Finally, support in several intellectual of its time and current to demonstrate its singular importance in the historiography native of Sergipe.

Key-word: Carvalho Lima Júnior. History production. History sergipana.

O historiador Francisco Antônio de Carvalho Lima Júnior nasceu na cidade de Itabaiana a 4 de julho de 1850. Os seus pais foram: o padre Francisco Antônio de Carvalho e Josefa Maria da Conceição1. Ele aprendeu as primeiras letras com sua mãe e a partir daí se desenvolveria por méritos próprios, pois em Itabaiana o campo educacional não tinha muito que lhe oferecer. Com o intuito de crescer intelectualmente, abandonou sua terra natal por volta dos 19 anos de idade, onde migrou para a capital sergipana2.
Lima Júnior sempre foi detentor de grande inteligência e conhecimentos adquiridos pelas suas exaustivas leituras3. Em 1875, ao mesmo tempo em que ingressava no magistério público, conseguiu licença da Assembléia Legislativa para dar prosseguimento aos estudos matriculando-se em fevereiro no “Atheneu Sergipense”, em Aracaju, deixando em seu lugar um substituto4. Entre o ano citado e 1879, lecionou em Carrapicho. Neste último ano, requereu e obteve da Assembléia Legislativa licença de sete anos para cursar em Maceió as disciplinas do curso de Direito de Recife. Residiu na capital alagoana por 3 anos, onde fez com sucesso as disciplinas de Português, Geografia, Retórica e Filosofia. Provavelmente, por não aceitar as normas acadêmicas ou curriculares voltou ao seu Estado natal sem concluir o curso. Contudo, em 17 de junho de 1919 obteve a provisão para exercer a advocacia, o que com grande sabedoria5. De volta a Sergipe, após os três anos em Maceió- AL deu continuidade as suas atividades docentes até novembro de 1886, quando pediu exoneração do cargo6.
Carvalho Lima Júnior, autodidata e grande amigo das letras, é uma referência quando se fala na História de Sergipe, pois souber manusear com destreza as letras e a oratória durante a sua vida. Por isso, seu amigo Armindo Guaraná escreveu que foi um “talento polymorpho é também uma das intelligencias mais productivas da terra sergipana..., com uma cultura metodisada seria, não ha negar, maior o seu valor como homem de letras”7. Devido a essa dedicação ao mundo das letras e a História de seu Estado, legou-nos inúmeros artigos, livro e cinco trabalhos monográficos históricos que constituem o seu legado historiográfico. Portanto, propomo-nos neste artigo demonstrar esse legada ao citar a sua principal obra historiográfica sinteticamente, os seus trabalhos monográficos com sínteses e os temas históricos desenvolvidos por ele nos diversos jornais espalhados pelo Brasil. Enfim, apoiamo-nos em vários intelectuais de sua época e atuais para demonstrarmos a sua singular importância na historiografia sergipana.
Além de exercer a docência, dedicou-se ao jornalismo e foi nessa função que passou a sua vida. O seu primeiro artigo foi escrito no dia 2 de junho de 1875, intitulado “O absolutismo da razão”, no Jornal de Penedo. Dessa data em diante, escreveu para diversos jornais do Brasil, sobre temas dos mais variados: literatura, política, sociedade, história, economia, religião, biografias e outros mais.
Entre os vários artigos de relevância historiográfica estão às biografias de alguns estudiosos de grande relevo na sociedade sergipana, como é o caso de “Manoel Valladão”, “Gumersindo Bessa” e “Padre José Alves Pitangueira”. “Também biografou pessoas simples da sociedade como é o caso de “João Francisco dos Santos” (João Carpina)”. Ainda com o tema biográfico escreveu “Apontamentos biográficos de sergipanos” que são uma série de artigos com fatos da vida de vários sergipanos.8
Também nos diversos artigos historiográficos, Carvalho Lima Júnior dedicou-se a escrever sobre a “Propaganda Republicana” em Sergipe e Alagoas. Ao longo dessa série de artigos, o historiador escreveu sobre as palestras em defesa da República, as campanhas republicanas, a formação dos clubes republicanos, os acontecimentos após a Proclamação da República e suas atividades. A primeira série desses artigos foram dedicados ao movimento e a implantação da República em Alagoas. Neles discorre sobre o processo de instalação, adesões, chefias políticas e tudo que envolveu o processo. Esses artigos foram publicados, entre 19 de agosto de 1917 e 1º de setembro de 1917, com interrupções no Jornal “Diário da Manhã”, em Sergipe. A série de artigos voltados ao processo de instalação, reação das vilas, acordos políticos foi publicado pelo mesmo jornal no período entre 15 de fevereiro de 1918 e 22 de março de 1918, com interrupções.9
Nos demais artigos historiográficos, Lima Júnior dedicou-se a escrever sobre diversos temas de grande relevância histórica: crescimento populacional das cidades sergipanas, a natalidade, a mortalidade, os casamentos, os óbitos, batizados, o desenvolvimento da economia sergipana, as exportações dos produtos agrícolas, política, problemas sociais, religiosidade, alistamento militar em Sergipe, a relação entre sergipanos e baianos, os impostos de importação, entre outros.
Esses artigos com variados temas históricos estão espalhados por inúmeros jornais em Sergipe e outros Estados brasileiros. Os jornais em Sergipe para os quais escreveu foram: “Echo Liberal”; “Laranjeirense”, que mais tarde viria a se chamar “O republicano”; “União Liberal”; “O Estado”; “Jornal de Aracaju”; “O Guarany”; “O Imparcial”; “Jornal do Povo”; “O Estado de Sergipe”; “Correio de Aracaju”; “Jornal de Sergipe”; “Jornal Popular”; “Diário da Manhã”; “Sergipe Jornal”. Em Alagoas redigiu para o: “Jornal de Penedo”; “O Trabalho”; “Gutemberg”; “O Oribe”. No Estado do Espírito Santo no jornal “A Opinião”. Na Bahia, no “A Tarde” e no Rio de Janeiro no jornal “O Paiz”, dentre outros.10
Em seus artigos, Lima Júnior mesclou textos narrativos, dissertativos e descritivos, porém enfatizou os narrativos. Procurou contar os fatos de forma a torná-los fieis ás fontes primarias, mas também deu pontos de vistas, caracterizando-se por ser um historiador crítico e questionador.
Contudo, esses inúmeros artigos espalhados nos diversos jornais do país não estão todos à disposição. Isso porque parte deles sem condições de manuseios, deteriorados, suas letras embranquecidas, corroídos, ilegíveis e/ou interditados. Porém, temos garantido um bom número desses artigos no trabalho monográfico de José Wilson Moura Santos, intitulada “Francisco Antônio de Carvalho Lima Júnior: introdução e antologia” que incansavelmente transcreveu dos jornais sergipanos algumas produções de grande importância para a História sergipana.11
Além da produção dos numerosos artigos historiográficos, o historiador Lima Júnior legou-nos a sua grande obra histórica em 1916, quando foi nomeado pelo General Oliveira Valladão para reunir todos os documentos que interessassem a questão dos limites entre Sergipe e Bahia, escrevendo assim, o livro denominado “História dos Limites entre Sergipe e Bahia” (1918).
Sobre esse trabalho, a professora, historiadora e conterrânea de Lima Júnior, Maria Thetis Nunes enalteceu a importância da obra “História dos Limites entre Sergipe e Bahia” (1918) pela “considerável documentação buscada para justificar as pretensões do Estado de Sergipe a áreas territoriais ocupadas pelo Estado da Bahia”.12
Para Acrísio Tôrres, Carvalho Lima Júnior demonstrou o seu extremado conhecimento da nossa História ao tratar de uma das maiores, ou mesmo, a maior questão interestadual: a questão dos limites entre Sergipe e Bahia. Nessa obras, conforme Acrísio Tôrres, Francisco Antônio de Carvalho Lima Júnior, demonstrou o sue grande potencial acerca do conhecimento sobre o assunto ao ser nomeado pelo então governador do Estado o general Valladão para representar Sergipe na questão dos limites entre os dois Estados. 13
A obra intitulada “História dos Limites entre Sergipe e Bahia”(1918) dividi-se em duas partes. A primeira refuta o “Limite do Estado da Bahia”, do Dr. Braz do Amaral. Essa refutação se dá pela análise e crítica de mapas, documentos e afirmações do próprio autor baiano. De acordo com Carvalho Lima Júnior, os mapas apresentados continham muitos erros cartográficos e os documentos apresentados eram desordenados, confusos, muitos sem autenticidade, além de suas análises serem distorcidas quanto ao conteúdo. Na segunda parte, Lima Júnior defendeu os direitos de Sergipe aos territórios anexados pela Bahia ao longo dos anos. Essa defesa se deu com apresentação de documentos transcritos da obra de Dr. Braz do Amaral e outros catalogados na Bahia e Sergipe. Nessa parte, ainda demonstrou a anexação de Geremoabo, a invasão baiana pelo oeste, noroeste e sul do Estado sergipano. Por fim, confirmou que Sergipe desde a capitania conservou a sua independência administrativa e o seu território respeitado pelo rei português.14
O professor José Silvério Leite Fontes ratificou a importância da historiografia de Carvalho Lima Júnior para a História de Sergipe ao explicitar que no período de 1910 quando o assunto do momento era a questão territorial entre os dois Estados, esse se mostrava já um grande conhecedor da História de Sergipe e defensor da causa sergipana na questão dos limites ao escrever sua volumosa obra.15
Além dessa volumosa obra que até o presente nenhum estudioso debruçou-se em analisá-la e fazer uma exaustiva crítica, Lima Júnior mais uma vez, enriqueceu a historiografia sergipana com cinco trabalhos monográficos históricos, sendo que, dois deles inéditos e pioneiros no gênero: a História dos municípios sergipanos Itabaiana e Simão Dias.
“No campo monográfico Lima Júnior iniciou o seu trabalho com a Monografia Histórica do Município de Itabaiana” (1914) que está dividida em três capítulos. O primeiro mostra que o povoamento de Itabaiana se iniciou com a fuga dos Tupinambás do litoral com a colonização de Sergipe e continuou com a concessão de sesmarias. O seu povoamento no início limitou-se aos sesmeiros e escravos e só no século XIX houve um grande desenvolvimento populacional incentivado pela produção de algodão e confecção têxtil. A sua exploração se deu com a procura do ouro, a atividade pecuária, agrícola e a indústria doméstica. O segundo capítulo trata da localização do primeiro povoamento com a compra de um sítio pela Irmandade das Almas, sua transferência, como também, a elevação á freguesia e sua extensão territorial. O terceiro mostra a atuação política dos itabaianenses em Sergipe, principalmente quando a Bahia a invadiu após o Decreto de 1820, ocasionando a partir daí a ascensão dos chefes políticos locais na política sergipana. Expôs também, a violência e as lutas acirradas dos partidos políticos nas campanhas eleitorais. E, por fim, mostra que a educação teve um desenvolvimento lento e tardio, porém em seu quadro docente notáveis intelectuais.16
Em seguida escreveu a respeito da “Revolução de Santo Amaro – Sergipe” (1914) que é composta por oito capítulos. O primeiro deles discorre sobre a transferência da Câmara Municipal de Santo Amaro para a povoação de Maruim, depois Rosário do Catete, voltando em seguida a Maruim. Em meio a essas idas e voltas estava a desobediência dos santamarenses ao governo, o que levou a extinção da vila e sua subordinação a nova vila de Maruim, provocando protestos e a sua restituição. O segundo capítulo trata das eleições de 1836, que fraudadas provocaram protestos encaminhados ao governo da província que não os atendeu, provocando a chamada Revolução de Santo Amaro. O terceiro capítulo mostra a declaração de guerra dos santamarenses ao governo que fugiu diante do ataque ao povoado Rosário do Catete, esse procurou auxílio nos municípios sergipanos para enfrentar os revoltosos. O quarto capítulo versa sobre a marcha dos revoltosos em direção a Laranjeiras, onde acampados na fazenda de Santa Ana recebem o apoio do Major Celino e aceitam o acordo de reconciliação, cujo não foi cumprido. O quinto capítulo aborda a represália à vila de Santo Amaro, onde os revoltosos reagiram inutilmente e a mesma ficou sobre a administração de João Bolacha. O sexto capitulo discorre sobre os revoltosos emigrados e uma nova revolta na vila que não foi contida pelas forças do governo provincial. O sétimo capítulo discute a série de perseguições e punições arbitrárias do governo aos revoltosos, enquanto que os emigrados propagavam os seus ideais, o governo era incapaz de contê-los. O último trata da pacificação, anulação das eleições pelo governo imperial e a anistia a todos os revoltosos. 17
Prosseguindo os seus trabalhos monográficos registrou a “Memórias sobre o poder Legislativo em Sergipe, 1824-1889” (1919, esse trabalho está dividido em quatro capítulos. O primeiro “O Conselho do Governo 1824 a 1834” trata de apresentar cronologicamente os integrantes do Conselho do Governo e suas deliberações, representações, reuniões extraordinárias, autorizações e medidas que promovessem a paz e garantissem a ordem em Sergipe. O segundo, “Conselho Geral da Província 1829 a 1834 trata de descrever cronologicamente, mesmo com interrupções, os integrantes do Conselho Geral da Província e os atos legislativos com as deliberações. O terceiro, “Assembléia Provincial – 1835 a 1889” delineia os nomes dos representantes da Assembléia Provincial durante os biênios a partir de 1838, além de chamar a atenção para as primeiras fraudes eleitorais em Sergipe e cassações de mandatos de adversários políticos eleitos. O quarto, “Atos Legislativos” obedece a ordem cronológica. Registra os atos legislativos de 1835 a 1889, como também, a autorização de contratos para a província, decretos, concessões e são transcritos as deliberações consideradas de importância para a História da província.18
Ainda sobre o tema da organização política sergipana documentou no trabalho monográfico “Capitães-Mores em Sergipe – 1590 a 1820” (1985) todos os governantes sergipanos desde sua colonização a declaração de sua emancipação política, complementado com questões políticas, sociais e econômicas do período estudado. A dita monografia é formada de três capítulos ou partes. A primeira, “Capitães-Mores (1590 a 1640) Domínio Espanhol”, cita os governantes de Sergipe a partir da colonização de Cristóvão de Barros até 1640. A segunda, “Capitães-Mores (1640 a 1696) até a criação das Ouvidorias”, continua a ordem cronológica dos governos, e, além disso, cita os acontecimentos mais relevantes em algumas dessas administrações. A última parte, “Capitães-Mores de Sergipe (1696 a 1820)”, além de continuar a ordem cronológica dos governadores de Sergipe e os feitos da maioria deles, trata de questões políticas (confrontos de competência entre ouvidor e governador, por exemplo, p. 56), social (como o banditismo em Laranjeiras, p. 67 a68), judicial (a questão dos limites entre Sergipe e Bahia, p.88) e econômico (a importância de Sergipe na produção de farinha para abastecer tanto o mercado interno como o externo, p. 93).19
O último trabalho monográfico produzido por Carvalho Lima Júnior foi a “Monografia Histórica do Município de Simão Dias” (1926). Essa monografia se divide em seis capítulos. O primeiro mostra que a denominação da cidade teve origem na pessoa do ‘Simão Dias Francês’ nascido em Itabaiana que fugindo da invasão holandesa no século XVII, estabeleceu-se nas matas do Caiça. O segundo descreve toda a área de Simão Dias que fazia parte da freguesia e termo de Lagarto e que sua ocupação foi promovida pelas tribos indígenas e as doações de sesmarias. O terceiro delineia a invasão holandesa que provocou a fuga de várias famílias para as matas do Caiça, entre elas a de Simão Dias, onde passaram a cultivar a terra e criar seus rebanhos. O quarto discorre sobre a acusação de Braz Rabello a Simão Dias de lhe ter desviado 50 cabeças de gado e todo o desfecho que no final foi provada a inocência de Simão. O quinto capítulo explana a morte de Simão Dias sem deixar descendentes conhecidos. O último capítulo, conta que a região em que morou foi invadida pela Bahia com a criação da freguesia de Bom Conselho. E essa, unida ao Curado de Simão Dias, conseguiu após várias tentativas a elevação à vila no dia 15 de março de 1850.20
Diante de todo esse perfil historiográfico de Lima Júnior notamos quanto foi e é importante o historiador itabaianense, mesmo que fisicamente fosse “de baixa estatura”21 era das mais altas intelectualidade de seu tempo. E ainda mais, nunca se atrelou aos poderosos do seu tempo, conservando-se integro e livre a se opor e criticar energicamente a tudo e a todos que se colocassem contra os seus ideais.22 De grande operosidade e honestidade foi um exemplo a se seguir, não só pelo caráter inabalável, mas também, pela doação vital a cultura e a historiografia sergipana. Foi historiador, filósofo, geógrafo, poeta, dramaturgo advogado, contista, professor e jornalista.23
Entre outras apreciações feitas sobre Francisco Antônio Carvalho Lima Júnior está a de Baltazar Góes que dedicou duas páginas de sua obra a elogiar e engrandecer os feitos de Lima Júnior em prol da História de Sergipe. Para o republicano, Lima Júnior foi dotado de um espírito lutador, de grande inteligência, autodidata, bondade, altivez, talento e muito conhecimento que usufruiu principalmente na imprensa para divulgar e defender assiduamente a república no Brasil e em Sergipe.24
Sebrão Sobrinho ao receber o arquivo de Lima Júnior atestou que era riquíssima em fontes primarias. Ao manusearmos esse arquivo que se encontra no APES/SE na pasta de documentos de Sebrão Sobrinho nos deparamos com cartas, poemas, contos, escritos biográficos, notas entre outros. Em seu artigo intitulado “O arquivo de Carvalho Lima Júnior”, Sebrão considerou como um dos grandes pesquisadores da História sergipana e ainda afirmou que Lima Júnior reuniu uma vasta documentação que é de grande utilidade para a historiografia do nosso Estado. Segundo Sebrão, ele foi “... um dos sergipanos mais ilustres de seu tempo e que mais escreveu acerca de nossa história, publicando seus trabalhos em livros e em jornais”25
Tanto Sebrão Sobrinho quanto José Calazans consideraram-o um grande historiador, este afirmando que fora “um dos maiores historiadores sergipanos”, portanto com “direito a registro separado”26 em nossa historiografia devido a sua valiosa colaboração à História de Sergipe e a memória do seu povo.
Carvalho Lima Júnior fez parte da terceira fase da nossa historiografia como afirma Calazans. Nessa fase, há um grande crescimento da produção histórica em nosso Estado que era congregada e incentivada pelo Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, pois é através dos seus componentes, que começaram a debater e escrever sobre temas ligados a nossa história com mais efervescência que até não se processava em Sergipe.27
Quanto ao método, Carvalho Lima Júnior demonstrou uma grande intimidade no manuseio das fontes, pois segundo Calazans foi “cuidadoso na apresentação de seus documentos e soube julgá-los com seriedade e crítica...”28 A isto se deveu ao grande acervo particular que manteve em seu poder. 29
Pelo visto, Lima Júnior soube usufruir muito bem de suas fontes que pelas informações dadas em seus trabalhos eram de uma diversidade impressionante. Esse é o caso da “Revolução de Santo Amaro”, onde ao seu termino, expôs na nota de roda-pé que de nada aproveitou dos trabalhos de Felisbelo Freire e de Travassos já que continha neles deficiências quanto ao conteúdo e o que ficou registrado por ele foi graças aos seus alfarrábios. 30
Portanto, ao conhecermos a produção historiográfica de Lima Júnior temos a convicção de que tratou de todos os agentes históricos concebidos aqui, como todas as pessoas da sociedade desde os que governavam aos governados. Escrevia sobre temas que correspondiam a cada classe social e seus anseios, produção e participação na construção da História.
Embora tenhamos citado todos esses estudiosos que escreveram algumas linhas sobre Lima Júnior, enaltecendo-o ou referindo-se a sua produção historiográfica, pouco se tem sobre ele e muito mais ainda sobre a sua produção historiográfica. Esse artigo é apenas uma simples contribuição ou uma provocação para estudiosos e pesquisadores se debruçarem a estudar e escrever sobre esse extraordinário historiador que foi um incansável pesquisador31 e um apaixonado por nossa História. 32

NOTAS
* Texto escrito teve como base a monografia produzida por mim intitulada “Francisco Antônio de Carvalho Lima Júnior: introdução e antologia” como requisito para a obtenção da graduação em Licenciatura em História pela UFS em 2002.Texto produzido entre julho e setembro de 2008.
** Graduado em História pela UFS, Especialista em Educação e Gestão pela Faculdade Pio X, professor da rede pública e municipal de ensino.
1GOÉS, Baltasar. A República em Sergipe (Apontamentos para a História), 1870-1889. Aracaju, typ. do Correio de Sergipe, 1891, p. 22; BITTENCOURT, Liberato. Sergipanos Ilustres. Rio de Janeiro, Tip. Pap. e Liv. Pereira, 1913, p. 113.
2GUARANÁ, Armindo. Dicionário Biobibliográfico Sergipano. Rio de Janeiro, Estado de Sergipe, Empresa Gráfica Editora Paulo, Pongetti e C., Rio de Janeiro, 1925, p. 90; CARVALHO, Vladimir Souza. A República Velha em Itabaiana. Aracaju, Fundação Oviêdo Teixeira, 2000, p. 115; Góes, Op. cit. p. 22-23.
3GOÉS, Op. cit, 1891, p. 22.
4Id. ibid.
5GUARANÁ, Armindo. Dicionário Biobibliográfico Sergipano. Rio de Janeiro, Estado de Sergipe, Empresa Gráfica Editora Paulo, Pongetti e C., Rio de Janeiro, 1925, p. 90-91.
6Id. ibid; LIMA, Jackson da Silva. História da Literatura Sergipana. Aracaju, FUNDESC, 1986, p. 507.
7GUARANÁ, Op. cit., 1925, p. 91.
8SANTOS, José Wilson Moura. Francisco Antônio de Carvalho Lima Júnior: introdução e antologia. São Cristóvão, 2002. 403p. Monografia (Graduação em História). Departamento de História, Universidade Federal de Sergipe, 2002, p. 37.
9SANTOS, Op. cit. p. 218-316.
10SANTOS, Op. cit. p. 47.
11Esse trabalho monográfico foi escrito como requisito para conclusão do curso em História pela Universidade Federal de Sergipe em 2002 e compõe-se da biografia do objeto de pesquisa, bibliografia de Lima Júnior e divisão dos artigos em quatro temas: biografia, propaganda republicana, avulsos e estatística.
12NUNES, Maria Thetis. Sergipe Colonial I. Sergipe: UFS; Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989, p. 13
13ARAÚJO, Acrísio Tôrres. Pó dos Arquivos.. Brasília, DF, 1999, p. 67-68.
14LIMA JÚNIOR, Francisco Antônio de Carvalho. História dos Limites entre Sergipe e Bahia. Aracaju, Imprensa Oficial, 1918.
15FONTES, José Silvério Leite. Levantamento das Fontes Primarias da História de Sergipe. Caderno da UFS, Aracaju, 1972, p. 5.
16LIMA JÚNIOR, Francisco Antônio de Carvalho. Monografia Histórica do Município de Itabaiana. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, vol. II, ano II, 1914, P. 118-129.
17_____.Revolução de Santo Amaro. – Sergipe 1836. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
18_____ .Memórias sobre o poder Legislativo em Sergipe, 1824 a 1889. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, ano V, vol. IV, Aracaju, 1919, p. 1 a 176.
19_____. Capitães Mores de Sergipe – 1590 a 1820. Aracaju, SGRASE, 1985, 96p.
20_____. Monografia Histórica da cidade de Simão Dias. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, vol. VII, Aracaju, 1926, 9-33.
21BITTENCOURT, Liberato. Sergipanos Ilustres. Rio de Janeiro, Tip. Pap e Liv. Pereira, 1913, p. 113.
22GUARANÁ, 1925, p. 91.
23SOBRINHO, Sebrão. O Arquivo de Carvalho Lima Júnior. Sergipe-Jornal, Aracaju, 13 de abr., 1944, p1; LIMA, Op. cit, 1986, p. 507.
24GÓES, Op. cit. 1891, p. 22-23.
25SOBRINHO, Op. cit 1944, p. 1.
26SILVA, José Calazans Brandão da. Aracaju e outros temas sergipanos. Aracaju, governo do Estado, FUDESC, 1992, p. 16.
27Idem, 1922, p. 16..
28Ibid.
29SOBRINHO, 1944, p. 1.
30LIMA JÚNIOR, Revolução de Santo Amaro. 1914, p. 296.
31SILVA, 1992, p. 16.
32GUARANÁ, 1925, p. 90-94.


BIBLIOGRAFIA


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BITTENCOURT, Liberato. Sergipanos Ilustres. Rio de Janeiro, Tip. Pap. e Liv. Pereira, 1913.

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______Memórias sobre o poder Legislativo em Sergipe, 1824 a 1889. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, ano V, vol. IV, Aracaju, 1919

______Revolução de Santo Amaro 1836.. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, ano II, fascículo III, vol. II, Aracaju, 1914, p. 1 a 176.

_____. Capitães Mores de Sergipe – 1590 a 1820. Aracaju, SEGRASE, 1985

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SANTOS, José Wilson Moura. Francisco Antônio de Carvalho Lima Júnior: introdução e antologia. São Cristóvão, 2002. 403p. Monografia (Graduação em História). Departamento de História, Universidade Federal de Sergipe, 2002

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